A falência da comunicação nos profissionais de TI

O texto abaixo foi produzido em 2008 como exercício na disciplina de Redação Jornalística III sob a supervisão da professora doutora Florence Dravet (Universidade Católica de Brasília).

A pegadinha do primeiro parágrafo comprovou a tese de Nicholas Carr em seu livro “A geração superficial – O que o Google está fazendo com nossos cérebros.” Afirma o autor que depois da Internet, as pessoas não leem mais do que 20 linhas.

O episódio com o estagiário foi verídico e aconteceu quando eu era coordenador de estágio em tecnologia da informação entre 2004 e 2008 em minha instituição. O estudante cursava Ciência da Computação em centro universitário no Distrito Federal

O texto causou polêmica. Fui taxado de analfabeto e praticante do “analfabestismo” funcional. Leia até o fim e descubra o porquê!

O texto

Como fasso para ser um proficional de sucesso? Poço participar do processo de estágio? As duas orações não fazem parte de auguma obra de ficção, mas de tópicos postados em foruns de informática por adolescentes aspirantes às carreiras de tecnologia da informação. A maioria tem aver com orientação vocassional, mas grande parte está relacionada com informação proficional. *

Os especialistas na Última Flor do Lácio são unânimes: é preciso aperfeiçoar as habilidades de comunicação ainda no ensino médio. Esperar para descobrir isso num estágio ou prova pode depor contra a imagem do estudante, por mais competente que ele seja nas habilidades técnico-instrumentais.

Foi o que aconteceu com Eliezer (nome fictício), estagiário de tecnologia da informação (TI) acionado para resolver um problema no computador do departamento de comunicação de certa empresa. A questão era simples: recuperar o arquivo “situacao_2007.doc” que havia sido apagado. Quando renomeou o novo arquivo, ninguém mais conseguiu achar o documento no servidor de arquivos. O aluno trocou a letra “s” por um “c”. Fora a vergonha e a “cituação” do arquivo, a situação do aprendiz não se alterou. Apesar do deslize, sua competência técnica como estagiário de informática não foi questionada. O estudante de computação, que pediu para não ser identificado, alegou pressa na digitação e que nem tinha lido direito a ficha de atendimento. Pressa é a desculpa mais comum nesse tipo de erro. Pela posição das letras no teclado, a justificativa não consegue convencer.

Segundo a editora de opinião do jornal Correio Braziliense, Dad Squarisi, são duas questões distintas. Uma é a comunicação em ambientes virtuais, onde escrever “blz” e “naum” não compromete a imagem do profissional. “A nova forma de comunicação é permitida na internet, mas não pode extrapolar para o mundo real”, diz a professora.

A outra questão está relacionada a ortografia. Escrever “vocassional” ao invés de vocacional não é problema de pressa ao digitar, mas de desconhecimento da grafia. A professora aconselha muita leitura para superar essa deficiência. “Quando se tem o hábito de leitura, fica muito mais fácil saber a forma correta das palavras”, afirma a jornalista.

Doutor em linguística, Cristovão Tezza afirma que a grafia incorreta é um mal menor diante dos outros problemas relacionados à língua portuguesa. “Escrever casa com ‘z’ pode ser resolvido com uma consulta ao dicionário ou por alteração da norma”, enfatiza o professor. A deficiência, segundo o autor, está mais relacionada à expressão subjetiva das palavras, isto é, à concatenação e à exposição lógica das ideias. “Penso, logo escrevo” seria a solução do problema linguístico se Renê Descartes, o filósofo francês, pudesse opinar.

A capacidade de pensar antes do ato de escrever pode, inclusive, evitar que o corretor ortográfico do processador de texto imponha um erro pior do que aquele que se propõe a combater.

Seja qual for a postura adotada, os futuros profissionais de TI não podem descuidar dos processos comunicacionais, até porque em muitas situações você não terá uma segunda chance de causar uma primeira boa impressão.

Por falar em impressão, a que deve ter ficado é a má, se o leitor permanecer apenas no primeiro parágrafo do texto justamente com 20 linhas. Algumas palavras foram grafadas de forma incorreta, justamente para chamar a atenção e alertar para o constrangimento da situação. Se você não percebeu o problema, está na hora de ter como companhia o Aurélio.

* Todas as palavras foram extraídas de textos de participantes em mídias de comunicação quando fui colunista de carreiras digitais, mercado de trabalho, orientação vocacional e informação profissional entre 1999 e 2009.

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